Sobre os poemas “incompreensíveis” de Jorge de Sena

 (Breve comentário de Lucas Laurentino, UFRJ)

Os chamados poemas “incompreensíveis” de Jorge de Sena representam uma parte de grande importância da sua obra, ainda que em termos quantitativos não sejam tão significativos. Como frisa em seu prefácio a Poesia III,  ao comentar a publicação de Peregrinatio ad loca infecta —  “é um livro cheio de continuidades e cheio de experiências e de experimentalismos (como os anteriores o foram sempre)” –, a sua obra, tanto poética quanto ficcional (e também crítica) é atravessada pela experimentação, principalmente a formal e linguística.

Assume, portanto, o caráter experimental de um dos seus livros mais estudados, Metamorfoses, ao encerrá-lo com os “Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena”, talvez os poemas mais conhecidos dessa linhagem “assêmica” ou “incompreensível”. Com eles Sena pretendia “que as palavras deix[ass]em de significar semanticamente, para representarem um complexo de imagens suscitadas à consciência liminar pelas associações sonoras que as compõem”, conforme diz no posfácio ao mesmo livro. Nesse caso, a percepção sonora das palavras ganha prioridade em relação à sua contraparte significativa e é através da audição (e também da articulação vocal) que se entra em contato com a dimensão mais penetrante do poema. 

Assim, nada melhor que ouvir um desses sonetos pela voz do próprio autor.