Sobre “Como tu queiras, amor…”

(Breve comentário de Lucas Laurentino, UFRJ)

Na poesia portuguesa o tema do amor, assim como outros, se encontra indissociável da figura de Camões, um dos maiores e mais profundos cultores do amor não só como sentimento humano mas também como uma divindade atuante que pode tanto ser a via para um conhecimento superior quanto ser entidade punitiva que condena aqueles que o perverteram. A Ilha dos Amores é uma das máximas realizações camonianas no que toca esta temática e muito da sua lírica versa a respeito das contradições decorrentes da relação entre o Amor e os amantes.

Jorge de Sena é um herdeiro direto desta visão de Amor, partilhando com Camões principalmente a compreensão da vivência amorosa como forma de humanização e acesso ao conhecimento. Na sua obra não faltam exemplos de poemas que abordam a experiência corporal do amor, as diferentes formas de amar, o erotismo nas suas mais diversas acepções. Poderíamos, inclusive, fazer uma pequena distinção entre poemas que tratam desta temática de forma abrangente e reflexiva, como “Amor” (de Peregrinatio ad Loca Infecta) e “Arte de Amar” (de Exorcismos) e aqueles em que o eu-poético se afirma numa relação com um tu direcionado, como “Tu és a terra” e “Conheço o sal…” (de Conheço o sal… e outros poemas). Outro exemplo desta maneira de tratar o Amor e o ser amado por um tu é o poema “Como queiras, Amor, como tu queiras”, de Post-Scriptum, em Poesia I.

Ouçamos, pois, este poema na voz do autor junto com imagens dele e de sua esposa e viúva, Mécia de Sena: